Investir no exterior nunca foi tão acessível como hoje. Com o avanço das tecnologias e a popularização das plataformas de investimento, qualquer investidor brasileiro pode, com poucos cliques, acessar ativos ligados à economia mundial — mesmo sem sair da B3, a bolsa de valores brasileira. Nesse contexto, dois instrumentos ganham destaque: os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) e os ETFs internacionais.
Mas afinal, BDRs ou ETFs internacionais: qual escolher? Essa é uma pergunta frequente entre investidores que desejam dolarizar seu portfólio ou diversificar suas aplicações fora do Brasil. A resposta, como veremos, depende dos seus objetivos, perfil de risco e do tipo de exposição que deseja ter no exterior.
Neste artigo, vamos explorar detalhadamente:
- O que são BDRs e ETFs internacionais
- As principais vantagens e desvantagens de cada um
- Diferenças entre eles
- Quando vale a pena investir em BDRs ou ETFs
- E uma análise comparativa final para te ajudar a decidir com segurança
📌 O que são BDRs?

BDRs, ou Brazilian Depositary Receipts, são certificados que representam ações de empresas estrangeiras, mas que são negociados diretamente na B3. Em outras palavras, ao comprar um BDR, você não está adquirindo diretamente uma ação estrangeira, mas sim um recibo que representa essa ação.
Esses recibos são emitidos por instituições depositárias no Brasil, que mantêm as ações originais custodiadas no exterior. Por exemplo, ao investir no BDR do Google (GOGL34), você está comprando um certificado que representa ações da Alphabet Inc., negociadas na bolsa americana Nasdaq.
✅ Vantagens dos BDRs
- Acesso facilitado a grandes empresas globais
Você pode investir em empresas como Apple, Amazon, Microsoft e Tesla sem precisar abrir conta em corretoras estrangeiras. - Negociação em reais (R$)
A operação é feita na moeda local, o que elimina a necessidade de câmbio manual. - Dividendos repassados
Empresas que distribuem dividendos no exterior também repassam parte desses valores ao titular do BDR, em reais. - Liquidez crescente
Desde que a CVM flexibilizou o acesso a BDRs para investidores em geral, a negociação desses ativos aumentou bastante.
❌ Desvantagens dos BDRs
- Taxas e spreads
Há incidência de taxas cobradas pelas instituições depositárias, o que pode reduzir a rentabilidade. - Risco cambial indireto
Embora negociado em reais, o valor do BDR é impactado pela cotação do dólar. Ou seja, você está exposto à variação cambial sem controle direto. - Menor quantidade de ativos disponíveis
Comparado com corretoras estrangeiras, o universo de BDRs ainda é limitado (ainda que em expansão).
📌 O que são ETFs internacionais?

ETFs, ou Exchange Traded Funds, são fundos de índice que replicam o desempenho de um índice específico. Os ETFs internacionais negociados na B3 seguem índices globais — como o S&P 500, Nasdaq-100, MSCI World, entre outros.
Ao investir em um ETF internacional, você está, na prática, comprando uma cesta de ações estrangeiras. É uma forma eficiente de se expor a dezenas ou centenas de empresas ao mesmo tempo.
Por exemplo:
- O IVVB11 replica o S&P 500 (índice das 500 maiores empresas dos EUA).
- O NASDAQ11 replica o índice Nasdaq-100, focado em tecnologia.
- O EURP11 segue empresas da zona do euro.
✅ Vantagens dos ETFs internacionais
- Diversificação imediata
Com um único ativo, o investidor acessa uma cesta de empresas, reduzindo o risco de concentração. - Baixo custo
ETFs costumam ter taxas de administração muito baixas, tornando-os eficientes em termos de custo. - Exposição direta a índices globais
É possível replicar a performance das maiores economias do mundo com simplicidade. - Liquidez e praticidade
Negociados em bolsa como ações, ETFs têm boa liquidez e são fáceis de comprar ou vender.
❌ Desvantagens dos ETFs internacionais
- Não pagam dividendos diretamente
Os dividendos recebidos pelas empresas da carteira do ETF são reinvestidos no fundo. O investidor não recebe proventos diretamente. - Risco cambial embutido
Assim como os BDRs, o desempenho é afetado pela cotação do dólar, o que pode aumentar ou reduzir os ganhos. - Falta de controle sobre os ativos da carteira
Como é uma cesta de ativos, você não pode escolher individualmente em quais empresas quer investir.
🔍 BDRs x ETFs internacionais: comparação direta
Critério | BDRs | ETFs Internacionais |
---|---|---|
Exposição | Empresa específica | Índice global com várias empresas |
Diversificação | Baixa | Alta |
Recebimento de dividendos | Sim (em reais) | Não (reinvestido no fundo) |
Custos | Pode incluir taxas da instituição depositária | Taxa de administração do fundo |
Risco cambial | Indireto (reflete o dólar) | Direto (índice atrelado a ativos estrangeiros) |
Liquidez | Média (aumentando) | Alta (especialmente os mais populares) |
Indicados para | Quem busca empresas específicas globais | Quem quer diversificação no exterior |
Valor mínimo de entrada | Acessível (a partir de R$10–R$100) | Acessível (alguns ETFs custam menos de R$200) |
📊 Exemplos práticos de cada tipo
🔹 Exemplo de investimento com BDR
Imagine que você acredita no crescimento da Apple (AAPL). Você pode comprar o BDR AAPL34, negociado na B3, e se beneficiar da valorização da ação da Apple nos EUA, além de receber dividendos em reais quando forem distribuídos.
É uma forma de apostar em uma empresa específica, com foco no desempenho individual daquele ativo.
🔹 Exemplo de investimento com ETF
Agora imagine que você prefere acompanhar o desempenho do mercado americano como um todo. Com o IVVB11, você compra uma participação em todas as 500 empresas que compõem o índice S&P 500 — incluindo Apple, Microsoft, Amazon, Facebook, Johnson & Johnson e outras.
Você reduz o risco individual e acompanha o crescimento da economia americana de forma ampla.
🧠 Quando escolher BDRs?

Os BDRs são ideais para quem:
- Quer investir em empresas específicas e confia no desempenho delas a longo prazo
- Deseja receber dividendos dessas companhias (ainda que convertidos em reais)
- Busca exposição a empresas globais de forma direta e simples
- Já tem uma boa diversificação e quer incrementar a carteira com ativos globais pontuais
Exemplos de perfis ideais:
- Investidores que acreditam fortemente em empresas como Tesla, Meta ou Disney
- Quem quer manter parte do capital exposto ao setor de tecnologia norte-americano via empresas líderes
🧠 Quando escolher ETFs internacionais?
Os ETFs são mais adequados para quem:
- Quer diversificação imediata em mercados globais
- Deseja seguir o desempenho de índices consolidados, como S&P 500, Nasdaq-100 ou MSCI World
- Busca uma abordagem passiva e de longo prazo
- Prefere não se preocupar com análise individual de empresas
Exemplos de perfis ideais:
- Investidores que seguem a estratégia “Buy and Hold” de longo prazo
- Quem está começando a investir no exterior e quer simplicidade
- Quem entende a importância da diversificação e quer reduzir riscos
🧮 E quanto aos impostos?
Essa é uma dúvida comum e importante. Veja o resumo abaixo:
Tributação nos BDRs:
- Lucro com venda: isento se o total vendido no mês for até R$20 mil (como ações)
- Acima disso: paga 15% sobre o lucro (ou 20% em operações de day trade)
- Dividendos: tributação já é feita no exterior antes do repasse, sem novo imposto no Brasil
Tributação nos ETFs:
- Lucro com venda: sempre tributado (sem isenção dos R$20 mil)
- Alíquota: 15% sobre o lucro (20% em day trade)
- Dividendos: são reinvestidos, não há tributação direta ao investidor
📚 Estratégias de investimento combinando os dois
Nada impede que você use BDRs e ETFs em conjunto. Veja algumas estratégias:
Estratégia 1: Coração em ETFs, tempero em BDRs
- 80% em ETFs como base da carteira, para garantir diversificação
- 20% em BDRs de empresas específicas que você conhece e acompanha
Estratégia 2: Alocação por setores
- Use ETFs como o TECH11 para expor-se ao setor de tecnologia global
- Invista em BDRs específicos de empresas de outros setores (como petróleo, bancos ou entretenimento)
🧭 Conclusão: BDRs ou ETFs internacionais, afinal?
A resposta certa depende do seu perfil, objetivos e estratégia.
Se você quer investir em empresas específicas que admira, como Apple, Microsoft ou Netflix, os BDRs podem ser uma excelente escolha. Eles oferecem um caminho simples e acessível para isso — com direito a dividendos e sem abrir conta no exterior.
Se, por outro lado, você busca diversificação ampla e menos riscos individuais, os ETFs internacionais são mais indicados. Com eles, você investe em dezenas ou centenas de empresas de uma só vez, com custos baixos e simplicidade operacional.
Em resumo:
- BDRs = tiro de precisão (apostas em empresas específicas)
- ETFs = tiro de escopeta (exposição ampla e segura ao exterior)
A boa notícia é que você não precisa escolher apenas um. Montar uma carteira equilibrada pode envolver os dois — aproveitando o melhor que cada instrumento tem a oferecer.
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